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Boletim de Notícias e Memórias de Ritápolis – MG | nossa antiga Santa Rita do Rio Abaixo

CENSO de 1831

Características da população de Santa Rita do Rio Abaixo antfm1831

A partir de 1750 são feitos os primeiros levantamentos oficiais da população do Brasil, a mando da Coroa Portuguesa, porém somente para informações estritamente militares. Em 1852 foi realizado o primeiro censo nacional. Mas antes, alguns censos estaduais e municipais já tinham sido realizados, tal como o censo de 1831-32 em Minas Gerais.

No Arquivo Público Mineiro[1] encontra-se documento original onde consta a Lista Nominativa deste censo realizado em 20 de dezembro de 1831, no então distrito de Santa Rita do Rio Abaixo, hoje Ritápolis. Tal documento, assim como tantos outros, foi transcrito pelo Núcleo de Pesquisa em História Econômica e Demográfica, integrado ao Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar/Face/UFMG e essa transcrição está disponível no endereço:  https://ti.eng.ufmg.br/pop30/principal.php?popline=listasNominativasOriginais.

As informações censitárias descritas neste documento, nos dá um panorama do distrito àquela época, tanto quanto, às características de sua população, como da ocupação de seu território. No Distrito de Paz da capela de Santa Rita do Rio Abaixo, filial à Freguesia de São João Del Rei, na Comarca do Rio das Mortes, habitavam-se 1.327 cidadãos em 130 fogos[2], ou unidades familiares.

Além do Distrito de Santa Rita, outros 233 distritos foram recenseados na mesma época. É curioso saber que os distritos vizinhos à nossa Rio Abaixo, tinham um número menor de fogos. Tendo o Distrito de Lage (hoje Resende Costa) 94 fogos, Prados tinha 43, São Tiago 55, São Gonçalo do Brumado (Cajuru) tinha 59 fogos, São José (hoje Tiradentes) tinha 93, e São João Del Rei (Sede da Comarca) era um dos poucos na região que tinha um número maior, contabilizando à época 157 fogos.

Os habitantes de Santa Rita eram em sua maioria “de cor”, como eram chamados na época. Tendo 929 declarados serem pretos, pardos, crioulos, caboclos ou africanos. E apenas 383 declaram-se brancos. Os escravos também eram maioria no distrito, sendo declarados 675. Porém este número poderia ser bem maior, pois somente 369 declaram-se livres e 36 forros[3], restando 232 sem informar sua condição, podendo assim haver mais escravos dentre estes.

A principal ocupação dentre os 711 homens do distrito revelava a característica rural e agropecuária que consta desde sua formação até os dias de hoje. Eram à época 397 ocupados nas roças, lavouras e campos. Já as 601 mulheres de Santa Rita eram, em sua maioria, ocupadas como fiadeiras, sendo declaradas 265 nesta função. Outros números expressivos de ocupações figuravam entre os 65 jornaleiros, 53 cozinheiras e, entre costureiras, rendeiras, tecedeiras e alfaiate, estavam 97 pessoas. Diversas outras ocupações também foram declaradas: nos estudos/escola (20), em agências (11), carpinteiros (10), sapateiros (10), feitores (7), pedreiros (6), ferreiros (5), seleiros (2), taberneiros (2), e ainda um negociante, um caldeireiro e um “de ordens”[4].

Este último era o Padre Manoel Coelho dos Santos, que segundo consta no livro de visitas pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade[5], era natural de Santa Rita e padre na Capela há 30 anos[6]. Padre Manoel à época estava com 68 anos, possuía 4 escravos que lhe serviam como roceiros, fiadeira e cozinheira. Era filho de pai português de mesmo no nome com a brasileira Genoveva de Almeida e Silva, sendo o terceiro de 10 irmãos[7]. Dona Genoveva de Almeida e Silva, consta neste censo, como “cabeça ou chefe” de um dos fogos do distrito, sendo declarada viúva, estando com 90 anos e de posse de 34 escravos.

Assim como dona Genoveva, constam outras mulheres neste censo como “cabeça ou chefe” de fogos e com grande posse de escravos, a exemplo: Floriana Eufrazia, solteira, 55 anos, com 43 escravos; Marianna Ferreira da Silva, viúva, 51 anos, com 45 escravos; Juliana Maria de Almeida (filha de Genoveva), viúva, 67 anos, com 38 escravos; e Custódia Ferreira de Jezus, viúva, 36 anos, com 36 escravos. Há um único homem no distrito com posse de mais escravos que as mulheres supracitadas, ele é Bernardo José Gomes, viúvo, 63 anos, com 75 escravos.

Nos 130 fogos contabilizados em Santa Rita, 100 tinham homens como “cabeças ou chefes”, e o restante tinham mulheres, e esses eram os eleitores. Pois, “após a declaração de independência, em 1822, D. Pedro I convocou eleições para a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa. O sistema utilizado foi o de dois graus: não votavam em primeiro grau os que recebessem salários e soldos; para a eleição de segundo grau, exigia-se decente subsistência por emprego, indústria ou bens. O cálculo do número de eleitores era feito a partir do número de fogos da freguesia[8]. Onde somente o “cabeça ou chefe” dos fogos tinha direito ao voto.

Outro dado que o Censo de 1831 nos revela é as famílias que figuravam a população Santaritense naquela época. Tendo entre os sobrenomes mais declarados os Coelho, Santos, Souza, Oliveira, Mendes, Pinto, Ribeiro, Dias, Teixeira, Serpa, Alves, Pereira, Amaral, de Jesus, Rodrigues, Arvellos, Moreira, Marinques, Almeida, Silva, Gomes, Ferreira, Vieira, Silveira e Xavier. Todos estes sobrenomes ainda estão presentes nas atuais famílias habitantes de Ritápolis, podendo certamente, serem descendentes das famílias daquela época.

E por fim, é fácil perceber diante dos números levantados pelo Censo, que a sociedade que vivia naquela época, quase 200 anos atrás, em Santa Rita do Rio Abaixo contava com características semelhantes à sociedade ritapolitana dos dias de hoje, tais como, sua economia principal está calcada na agropecuária, sua população está bem dividida entre homens e mulheres, com significativo número de mulheres como mantenedoras de suas famílias,

[1] APM – Arquivo Público Mineiro. Endereço: Av. João Pinheiro 372, Funcionários – 30130-180 | Belo Horizonte, MG – Brasil | Telefax: (31)3269-1060 / (31)3269-1167 | Site: www.siaapm.cultura.mg.gov.br [2] O Decreto nº157, de 4 de maio de 1842, em seu art. 6º, assim definia fogo: “por fogo entende-se a casa, ou parte dela, em que habita independentemente uma pessoa ou família; de maneira que um mesmo edifício pode ter dois ou mais fogos”. [3] Escravo liberto por Carta de Alforria [4] Eclesiástico. Ou sacerdote da Igreja. [5] Visitas Pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade (1821-1825). Fundação João Pinheiro e IEPHA. Belo Horizonte,1998 [6] Lê-se no livro: “o seu capelão é o Pe. Manuel Coelho dos Santos; é cura há 30 anos por ser natural do lugar”. [7] Informações retiradas do Testamento de Manoel Coelho dos Santos, pai, aberto em 09 de maio de 1785. Na transcrição feita por Flávio Marcos dos os, e disponibilizado pelo Projeto Compartilhar – www.projetocompartilhar.org – O documento original encontra-se arquivado no Museu Regional de São João Del Rei, caixa c-482, tendo 77 folhas originais. [8] Eleições no Brasil: uma história de 500 anos. Brasília: Tribunal Superior eleitoral, 2014.

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Publicado em 25 de março de 2015 por .

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